Cap.5: Loki e Sua Descendência
Havia uma outra divindade considerada o caluniador de deuses e articulador de todas as fraudes e atos condenáveis. Chamava-se Loki. Era belo e bem feito de corpo, mas de temperamento caprichoso e maus instintos. Pertencia à raça dos gigantes, mas se metera à força na companhia dos deuses e se comprazia em colocá-los em dificuldades, e livrá-los, depois, do perigo, graças às suas artimanhas, inteligência e habilidade. Loki tinha três filhos. O primeiro era o lobo Fenris, o segundo, a serpente Nidgard e o terceiro Hela (Morte). Os deuses não ignoravam que esses monstros estavam crescendo e que acabariam fazendo muito mal aos deuses e aos homens. Assim, Odin achou conveniente mandar buscá-los. Lançou, então, a serpente no profundo oceano pelo qual a terra é cercada. O monstro, porém, crescera a tal ponto que, enfiando a cauda na boca, rodeia toda a Terra. Hela foi atirada por Odin ao Niffleheim e recebeu o poder de dominar nove mundos ou regiões, nos quais distribui aqueles que lhe são enviados, isto é, os que morrem em conseqüência da velhice ou da doença. Seu palácio chamava-se Elvidner. Sua mesa era a Fome, sua faca, a Inanição, o Atraso, seu criado, a Vagareza, sua criada, o Precipício, sua porta, a Preocupação, sua cama e os Sofrimentos formavam as paredes dos aposentos. Hela podia ser facilmente reconhecida, pois seu corpo era metade cor-de-carne e metade azul, e tinha uma fisionomia horrível e amedrontadora.
O lobo Fenris deu muito trabalho aos deuses, antes que estes conseguissem acorrentá-lo; rompia as correntes mais fortes como se fossem teias de aranha. Finalmente, os deuses enviaram um mensageiro aos espíritos da montanha, que fizeram para eles a corrente chamada Gleipnir, que se compunha de seis coisas, a saber: o ruído produzido pelo andar de um gato, a barba das mulheres, as raízes das pedras, a respiração dos peixes, os nervos (sensibilidade) dos ursos e o cuspo das aves. Depois de pronta, a corrente ficou tão lisa e macia como se fosse de seda. Quando, porém, os deuses pediram ao lobo que se deixasse amarrar naquela fita aparentemente tão frágil, ele desconfiou de suas intenções, receando que houvesse ali algum encantamento. Assim, só consentiu em ser amarrado se um deus enfiasse a mão em sua boca para garantia de que a fita seria retirada mais tarde. Somente Tir (o deus da batalha) teve coragem suficiente para isto. Mas, quando o lobo verificou que não podia livrar-se e que os deuses não iriam soltá-lo, cortou com os dentes a mão de Tir, que ficou maneta desde então.
BULFINCH, Thomas. O LIVRO DE OURO DA MITOLOGIA. 26º Ed. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A., 2002. p. 384-385
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